Visitar o mirante do Edifício Martinelli, localizado bem no centro histórico de São Paulo, é compreender o motivo pelo qual o prédio é hoje um dos principais símbolos arquitetônicos da cidade. Cheio de histórias polêmicas que marcaram a glória da sociedade paulistana até chegar aos diversos crimes nos anos de degradação, ele é a materialização de uma época.
Após anos fechado, ele ressurge para uma nova fase, onde se torna antagonista ao lado de outros grandes espigões que ocupam o céu da cidade. Mediante agendamento gratuito, seu acesso é realizado apenas com visitas guiadas. Frente à imensa selva de pedras, uma parte interessante do passeio é tentar imaginar: como será que era a vista do Mirante do Edifício Martinelli quando ele foi inaugurado, em 1929?
A história de um certo imigrante italiano
Giuseppe Martinelli foi um imigrante italiano que chegou ao Brasil com apenas 17 anos de idade. Nascido na cidade de Lucca, ele era mestre de obras e vinha de uma família de pedreiros. Seu objetivo no Brasil era bem claro: trabalhar e enriquecer. E foi exatamente isso que fez. Se envolveu em grandes negócios no Porto de Santos e em vinte anos conquistou um enorme patrimônio proveniente de sua empresa de navegação.
Foi assim que ele decidiu construir o maior arranha-céus da cidade e, consequentemente, da América do Sul. Na época, os prédios com 10 andares já eram considerados muito grandes, por isso a obra do italiano gerou polêmica.
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O início de sua construção começou em 1924, tendo como arquiteto o húngaro William Fillinger. Cerca de 600 homens trabalharam no projeto, além de 90 italianos e espanhóis que cuidavam exclusivamente da parte de acabamento.
Esse processo foi bem conturbado e o projeto, que anteriormente previa 14 andares, mudou automaticamente para 24. Tanto que, a prefeitura precisou embargar, pois não existia licença para tal construção. Foi preciso que técnicos fizessem uma inspeção minuciosa no local, para que tudo fosse enfim liberado.
Como Martinelli queria fazer um edifício com 30 andares, construiu mais um e fez, no último andar, bem no topo do prédio, um pequeno palacete com cinco andares para que ele pudesse morar. Assim, o italiano provaria para as autoridades e a população que o local era seguro.
Ponto de encontro da alta sociedade paulistana, inquilinos do então Conde Martinelli eram constituídos por jornais, sindicatos, partidos políticos, casa de chá, consultório, cassino, barbearia, cinema de luxo, escolas de cursos livres, escritórios e até um hospedaria, com o antigo Hotel São Bento.
Visita ao mirante do Edifício Martinelli: como funciona?
O passeio é dividido em duas partes. A primeira é a vista do mirante do lado esquerdo, onde é possível ver de pertinho o “concorrente”, o edifício Altino Arantes, hoje Farol Santander, construído em 1947. Foi ele quem desbancou e tirou o título que o Martinelli ostentava.
Desse lado também, temos uma visão privilegiada da Praça da Sé, com a bela cúpula verde da igreja, servido de contraste para o cinza predominante. Uma pequena construção com grandes portas de vidro faz parte da arquitetura local. Nesse lugar, era o salão onde aconteciam as grandes festas.
Já do lado direito, o que chama a atenção é a piscina na cobertura do SESC 24 de maio, e também a Avenida São João, que de tão grande, perde-se o fim ao horizonte. No meio de toda essa estrutura fica o pequeno palacete onde vivia Giuseppe Martinelli.
O tour é bem simples e funciona para quem gosta de mirantes e quer desfrutar a vista do alto da cidade. Já para os amantes da história, pode ser que a visita decepcione um pouco, pois tudo é muito corrido e vamos do térreo diretamente para a cobertura, sem passar em outras áreas. A explicação também é bem rápida, sem nenhum aprofundamento nas curiosidades que envolvem o edifício.
Histórias da vida: do ápice ao declínio
Ao pensar que tudo é mutável e que a nossa trajetória é constituída de altos e baixos, é interessante pensar na história completa do edifício. Após a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, começou a grande depressão e assim a crise de 1929, que praticamente afundou os negócios do italiano.
Todo o dinheiro investido por ele durante a construção não conseguiu ser revisto, pois seus inquilinos também foram afetados pela maior crise financeira mundial. Cheio de dívidas contraídas pela grandiosidade monumental da sua obra, a única solução foi entregar o edifício para um banco italiano, que havia realizado os empréstimos.
Porém, durante a Segunda Guerra Mundial, quando houveram atritos entre Itália e Brasil, todos os bens de italianos foram confiscados, virando assim, propriedade do governo brasileiro. Não demorou muito para que houvesse um leilão. Mesmo tendo recuperado parte da sua riqueza, dessa vez por conta de minas de carvão no Rio de Janeiro, Martinelli não conseguiu arrematar a sua obra.
Chamado de “Edifício América”, por conta do grupo bancário com 103 proprietários que venceram o leilão, o prédio começou um período de degradação, com várias ocupações ilegais, até que em 1975, o prefeito eleito da cidade, Olavo Setúbal (dono do Grupo Itaú) decidiu revitalizar o prédio, desapropriando e dando início a um processo de restauração, sendo reaberto em 1979.
Hoje o edifício é 70% público e 30% de propriedades particulares que são os comércios ao redor: como o Café Martinelli, a casa de câmbio, papelaria e loja de presentes. Como parte da Prefeitura de São Paulo, lá dentro funciona a Secretaria Municipal de Habitação e Planejamento e algumas entidades como o Sindicato dos Bancários, a Empresa Municipal de Urbanização (EMURB) e a Companhia Metropolitana de Habitação (COHAB).
Com a ajuda da iniciativa privada, a Prefeitura de São Paulo prevê uma nova revitalização da área do mirante do Martinelli, com a instalação de restaurante, café e uma programação de atividades culturais. É possível também alugar a área para eventos.
Curiosidades do Martinelli
Conheça algumas das histórias de glória e decadência de um dos edifícios mais simbólicos de São Paulo:
– Todo o cimento utilizado na construção do edifício veio da Noruega e da Suécia, com o transporte feito pela empresa de navegação do próprio Giuseppe Martinelli. Já na parte de acabamento, não falta luxo e ostentação com mármore de Carrara, louças inglesas, elevadores suíços e espelhos belgas.
– Mesmo inaugurando em 1929, com somente 12 andares, a construção continuou até 1934. O ato de abertura só foi realizado para enfatizar o avanço arquitetônico pelo qual a cidade de São Paulo passava, deixando para trás outros projetos, como o Edifício A Noite, que estava sendo construído no Rio de Janeiro.
– Colocar de pé o Edifício Martinelli trouxe pânico para a cidade, pois muitos achavam que ele poderia cair nas pessoas e que iria roubar a luz e sol das casas vizinhas.
– O prédio foi o primeiro arranha-céu da cidade a sofrer um incêndio. O fato aconteceu no 26º andar, por conta de um pequeno curto elétrico nos motores dos elevadores. Na época, os bombeiros não sabiam bem como agir por conta do tamanho da obra, já que as mangueiras não chegavam até lá.
– No período que vai de 1960 a 1975, o edifício virou uma cidade em vertical, onde existia um mundo paralelo. Lá dentro havia de tudo: casas de prostituição, boates, igrejas, bilhares e até clínicas clandestinas de aborto.
– Com a desapropriação em 1975 foi preciso fazer uma grande limpeza no local, já que o lixo jogado no fosso do elevador chegava até o sexto andar. No meio desses detritos, foram encontradas diversas ossadas humanas.
– Há quem diga que o Martinelli é mal assombrado, pois o local foi cena de diversos crimes que chocaram a sociedade da época. Os casos mais conhecidos são o de Davilson Gelisek, um garoto que foi estrangulado e jogado na área do elevador pelo assassino Meia-Noite e da adolescente Márcia Tereza abusada e morta por cinco homens.
– As visitas tiveram que ser interrompidas por conta de diversos casos de suicídio. Atualmente só é possível subir no mirante com pequenos grupos, acompanhados por dois bombeiros e da guia turística.
Agendamento da visita ao mirante do Edifício Martinelli
A reserva de ingressos para realizar a visita ao mirante do Edifício Martinelli pode ser feita gratuitamente no site do Sympla. Ao todo são disponibilizadas nove visitas por dia, nos seguintes horários: 11h, 12h, 13h, 14h30, 15h30, 16h30, 17h30, 18h30 e 19h30. É necessário chegar 30 minutos antes, pois geralmente existe uma fila de espera e quem não chegar no horário pode perder a vaga.
A duração do passeio gira em torno de 40 e 45 minutos. Cada visita possui a quantidade máxima de 15 pessoas, por isso acaba sendo super concorrido. O interessante também é que ele é adaptado para pessoas com deficiência e podem conhecer o espaço com cadeira de rodas.
Como ela é totalmente realizada em uma área aberta, em caso de chuva a reserva é automaticamente cancelada, por isso fique de olho na previsão do tempo antes de agendar.
Serviços: Mirante do Edifício Martinelli
Endereço: Rua São Bento, 405 – Centro | São Paulo-SP
Entrada pela lateral do prédio, na Avenida São João, 35.
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