Todas as sextas e sábados a rotina é a mesma. Luiz Carlos Ribeiro, mais conhecido como a Rodela, levanta bem cedo, pega sua mala e segue para tomar o trem na estação Itaquaquecetuba. Depois de duas baldeações chega na São Bento, estação da linha azul do metrô, na região central de São Paulo.

Durante todo o caminho ele passa despercebido pela multidão de gente que entra e sai dos vagões, mas basta ele abrir a porta do banheiro do bar em que faz a sua transformação para enfim parar o local. Todos querem ver de perto “o homem da tv”.

No auge dos seus 60 anos, o artista hoje sabe que é preciso ter pés no chão para lidar com a mídia, porém, a fama que ela proporciona é arrebatadora. Não há dúvidas de que é a tal da popularidade que faz com que suas apresentações pela cidade fiquem sempre lotadas. É só Rodela, sua personagem, entrar em ação que as pessoas se aglomeram para assistir. Mas, nem sempre foi assim. 


O homem por trás da Rodela


Humorista Rodela
O marreteiro que virou artista: as roupas da esposa ajudaram na transformação

Nascido no Rio de Janeiro, aos 5 anos foi para Recife com toda a família. Desde pequeno Luiz Carlos era agitado, fazia piadas e brincava com os colegas na escola. Tanto que não conseguiu parar em nenhuma e logo abandonou os estudos. Na juventude, começou a namorar uma mulher mais velha e rica, que sonhava em tentar a vida em São Paulo. Veio junto. Ao chegar aqui o relacionamento não deu certo, mas ele conseguiu seu primeiro emprego na cidade, como peão de obra. 

No que diz respeito a profissão, sempre soube que não nasceu para ficar preso. Já no quesito amor, é Vera, que conheceu no chão de fábrica, sua companheira na alegria e na tristeza há mais de 35 anos.  

A primeira vez que apareceu na televisão foi no início da década de 1990, no Show de Calouros apresentado pelo Sílvio Santos. Wagner Montes, Elke Maravilha e Pedro de Lara até chegaram a gostar dos seus trejeitos e imitações, mas acabaram escolhendo seu concorrente que comia bananas de cabeça para baixo. Na época ainda era operário e resolveu arriscar apenas para ganhar uns trocados, naquele dia levou para casa 3 mil cruzeiros.

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Quando a vida surpreende


Após ser demitido da metalúrgica, acabou se rendendo ao trabalho informal. Foi ser marreteiro vendendo artigos vindos do Paraguai dentro dos vagões de trem. Logo não demorou para montar uma banquinha de camelô na rua Barão de Itapetininga. Foi lá que tudo começou. Certo dia levou a roupa da esposa sem que ela soubesse e começou a fazer caretas enquanto vendia os produtos. Chegou a um ponto em que ninguém mais queria comprar, a atração principal do seu negócio era ele próprio.

Foi então que tomou uma das decisões mais radicais de sua vida. Resolveu arrancar todos os dentes sadios da boca para facilitar a composição das caretas. Obviamente que ele penou para encontrar algum profissional dentista que fizesse o trabalho, porém, sempre existe aquele em que o dinheiro fala mais alto. No início foi difícil se acostumar com a dentadura e as dores na hora de fazer as caretas. Hoje, só incomoda quando passa muito tempo trabalhando. Aí, é preciso dar uma pausa para descansar os músculos faciais.

O nome Rodela surgiu após uma discussão com a esposa. Ao chegar do trabalho cansado todos os dias ia atrás de tomar uma caipirinha com um tira-gosto. Como não tinha nada de diferente para petisco, acabava pegando as rodelas que a mulher cortava de tomate e cebola para o preparo da salada do jantar. 

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De onde vem a Rodela


– Um dia ela ficou brava, gritou que se eu continuasse beliscando tudo, na hora de comer não iria ter nada. Aí eu comecei, ‘Ô Dona Rodela. Tudo bem, Dona Rodela!’ Percebi que o nome era legal, simples e engraçado. Meu nome não sai da boca do povo!

A personagem é inspirada nas mulheres da sua família. Na maioria de suas esquetes, utiliza um celular modelo tijolão. A graça está nos diálogos imaginários que troca com os parentes do Recife, no outro lado da linha. A conversa em tom gritado faz parte do improviso que gira em torno de diversos assuntos: quem ficou prenha, quem virou corno ou quem morreu. Fica difícil o povo não se identificar, já que muitos passam pela mesma situação todos os dias, matando pelo telefone a saudades e as curiosidades das fofocas do nordeste. 

Por saber que seu humor falava diretamente com o povo mais humilde, Luiz Carlos se encantou quando viu o programa Ratinho Livre, do apresentador Carlos Massa pela primeira vez. Começava ali uma peregrinação diária até a porta dos estúdios da Rede Record, na rua da Várzea, no nº 240, como ela gosta de contar em detalhe.  


A saga para o sucesso


Rodela fazendo caretas no show na rua
Para auxiliar a composição das caretas, Luiz Carlos arrancou todos os dentes

Todos os dias tentava uma oportunidade, pois sabia que se o Ratinho visse seu trabalho iria contratá-lo. Um dia estava nas ruas trabalhando e a produção das Noites do Terror, do extinto parque de diversões Playcenter, viu o seu número e o convidou para trabalhar em uma temporada. Foi lá que encontrou alguém que poderia lhe dar um empurrãozinho na carreira, um amigo que conhecia o diretor do programa. 

– Cheguei lá ainda de manhã com a minha pasta com matéria de jornal e revistas sobre o meu trabalho que eu sempre carregava. O diretor pediu para eu esperar que iria mostrar para o Ratinho. Quando ele voltou já era 3 horas da tarde, eu estava morrendo de fome. Disse que o Ratinho tinha gostado, viu que eu tinha bagagem, e queria fazer um teste comigo no palco ao vivo. Fui para o ar com a dupla Chrystian e Ralf que choraram de dar risada comigo. Quando acabou a apresentação o Ratinho veio correndo atrás de mim e me disse que a partir daquele dia, queria a Rodela em todos os programas.

Naquela época o Ratinho Livre era um sucesso, com altos índices de audiência. Luiz Carlos vivia o sonho de aparecer na televisão. Mas, quando completou 3 meses de casa, o Ratinho fechou contrato com outra emissora, o SBT. Como para interpretar a Rodela não recebia salário, apenas um cachê por semana, não pensou duas vezes em aceitar a proposta da Record em oferecer um pagamento mensal de 5 mil reais, livre, com um contrato de 4 anos, mais uma quantia de 10 mil reais. Ratinho não gostou, porém não tinha como levar sua trupe com as mesmas condições para outra emissora. 


Mudança repentina


Após sua saída, quem assumiu o programa foi o apresentador Gilberto Barros, que logo teve o nome da atração modificada para “Leão Livre”. Segundo Rodela, foi dele a decisão de colocá-lo na geladeira, ou seja, de deixá-lo fora da telinha. Foram anos fazendo poucas aparições, o que gerava desespero para quem sempre viveu de fazer os outros rirem.

Passados os anos de contrato, Carlos Massa pediu para que o buscassem. Ele reconheceu que no lugar do humorista, em respeito a sua família, também teria feito o mesmo por dinheiro. Quando chegou ao SBT surgiu uma ordem interna de que nenhum humorista seria contratado direto, quem tivesse interesse em gravar receberia um cachê de freelance, um valor inferior ao seu salário anterior.

Foi nesse momento que viu sua vida desmoronar e seus trabalhos diminuírem ainda mais. Depois de muito pensar, não teve jeito. O pai de família teve que colocar sua capa de super-herói, no caso as roupas da Rodela e encarar mais uma vez aquela que sempre o esteve esperando, a rua. 


Volta às origens: a rua como palco


Rodela
O artista e o povo: unidos pelo humor

Desta vez ela foi ocupada não por vontade e sim, por ser a única opção. Conseguiu produzir uma coletânea com algumas imagens de suas apresentações na televisão e criou um DVD para ser vendido durante seu show, o que ajudou bastante no orçamento. Na época do prefeito GIlberto Kassab era preciso esconder o material para não ser apreendido pela polícia. Já durante a gestão de Fernando Haddad e a legislação em vigor pode além de vender o DVD, cobrar uma colaboração espontânea por cada selfie. Mesmo tendo a fama ao seu lado, o preconceito às vezes bate a sua porta. 

– Sempre passa alguém aqui na rua e grita ‘Aê, xarope! Vai arrumar um emprego, fica se vestindo de mulher aí’. Eu não dou nem bola, é um coitado. Já briguei, mas depois eu percebi que isso pelo nome que eu tenho, não fica legal.

Paralelo ao seu trabalho nas ruas, ele continua recebendo de vez em quando convites para participar como convidado especial de alguns programas da televisão. Mas, seu maior sonho mesmo é voltar a conseguir um contrato em algum projeto humorístico. 

– Eu não procuro a televisão porque tenho uma dificuldade, eu não estudei, televisão é texto. A Globo, mesmo com a Zorra Total, tem que decorar o texto e eu não decoro. Eu acabo de ler uma palavra aqui e já esqueço. Meu negócio é no improviso, a não ser quando o pessoal chega e vai falando, faz isso ou faz aquilo. É o caso do Pânico na TV. Mas, se botar um texto na minha mão… Não desenrolo. Esse que é o problema que me impede de estar em uma grande emissora. Eu nem procuro, pois sei que não vou passar. Vou vivendo aqui na rua, dá pra viver…

Trecho do livro: “Palco & Asfalto – Um retrato dos artistas de rua na maior cidade do pais”, de Thatiane Ferrari. 

Além de Luiz Carlos Ribeiro (Rodela), outros artistas também fizeram parte do projeto. Conheça o trabalho de Willian Lee, guitarrista que, com sua arte, encantava as ruas do centro de São Paulo. 


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