A primeira vez que estive na região do Navigli em Milão, foi quando meu namorado me levou para almoçar em um restaurante próximo. Era a minha segunda vez na cidade e não sei o motivo, talvez por tentar focar apenas na Duomo, mas na minha primeira estadia não havia conhecido.
O entusiasmo dele em me apresentar o lugar me acompanha até hoje. É que foi ali que percebi o quanto o Navigli em Milão é importante não apenas para a história da cidade, mas também para seus moradores. Os milaneses amam fazer um aperitivo por lá, por conta disso, sempre é difícil saber quem é local e quem é viajante.
Antes de mais nada, é importante apresentar algumas questões. Quando eu falo da região do Navigli em Milão, estou falando da área mais turística da cidade, que contempla os famosos Naviglio Grande e o Naviglio Pavese. São dois canais que possuem uma área de peatonal, onde é possível caminhar.
Porém, eles não são os únicos. Existem, dentro e fora da cidade, cinco canais artificiais. São eles:
– Martesana
– Paderno
– Bereguardo
– Pavese
– Grande
O mais importante e antigo de todos eles é o Naviglio Grande. Documentos apontam que suas obras iniciaram por volta de 1177. No princípio, o objetivo de sua construção era a princípio servir como local de defesa e auxiliar na irrigação dos campos. Somente depois é que se tornou um canal navegável.
Demorou um pouco para ser iniciado o processo de navegação comercial. A rota ligava a cidade de Milão aos rios Adda e Ticino. A atividade continuou até meados de 1985, quando o sistema ferroviário se fortaleceu como principal meio de distribuição.
Durante todo esse tempo, o principal canal serviu como suporte para a construção da cidade milanesa. Para quem chega e vê a cidade como é hoje, nem imagina o trabalho que foi erguer cada um dos monumentos. Foi pelas águas que chegaram alimentos e materiais, principalmente os blocos de mármore de Candoglia, na região do Lago Maggiore. Cada uma das peças foram trazidos com esmero para a construção do Duomo de Milão, a catedral gótica.
Todo esse fascinante sistema de navegação contou com a ajuda do gênio Leonardo da Vinci, que estudou possíveis melhorias dos canais, projetando extensões e sistemas de barragem, isso por volta de 1500.
Lado B da cidade, o Naviglio Martesana fica em uma região mais afastada do centro, porém é igualmente bonito. Seu trajeto pode ser acompanhado por uma ciclovia, que conta com placas elaboradas pelo programa turístico da cidade, contando cada detalhe do lugar. Se estiver com tempo, vale a visita!
Sinônimo de diversão, o Navigli em Milão é atualmente uma das regiões mais agitadas da cidade. Cheio de lojas, bares e restaurantes, ele dá espaço também para alguns lugares históricos. Vamos lá?
PÁTIO DOS ARTISTAS
Outro lugar muito importante para a história são os pátios com as antigas casas populares. É possível visitar um deles na Via Alzaia Naviglio, 4. Chamado de Pátio dos Artistas, o local nos transporta para a vida urbana do antigo milanês.
Única coisa que eles pedem é que haja silêncio, mas é possível tirar fotos e andar por todo o espaço, que conta com lojas e ateliês. Na parte da frente, as folhas e flores interagem com os balcões baixos, nos corredores das antigas casas populares.
Já na parte de trás, temos contato com os prédios residenciais no tradicional “Giallo Milano”, a cor amarela característica da cidade, tal como a coloração do açafrão, usado no prato típico local. Ainda hoje é assim que muita gente vive por aqui, tendo porta com porta a presença dos vizinhos.
VICOLO LAVANDAI
Mantendo um pouco da atmosfera de como era a Milão antiga, é possível visitar o Vicolo Lavandai bem no início do Naviglio Grande. Se deixarmos a imaginação correr solta, é possível visualizar as mulheres de antigamente, ajoelhadas esfregando as roupas na estrutura de pedra, usando a água do riacho interligado com o canal. Mas, não. Boa parte da história, quem lavava as roupas por lá eram homens.
A Confraria das Lavanderias desde o século XVIII utilizava a mão de obra masculina para o serviço. Eles ficavam encarregados de lavar roupas e lençóis de famílias abastadas da região. Somente depois da Segunda Guerra Mundial é que mulheres foram autorizadas a lavar suas próprias roupas no local.
IGREJAS HISTÓRICAS
A mais fácil de visitar é a Igreja de Santa Maria della Grazie al Naviglio. Geralmente ela passa despercebida, mas é um importante local de oração. O local primeiro abrigou uma pequena capela em 1556. Foi ampliada e passou por um incêndio. A estrutura como vemos agora é de 1909.
Está com pique de andar? Então vá até a Igreja San Cristoforo Sul Naviglio. A construção mais antiga dela data de 1200. Pequena, pitoresca e histórica, ela servia como um farol em meio ao nevoeiro. A simplicidade desta igreja me encanta, tanto que é uma das minhas preferidas da cidade.
DARSENA
Se tem um lugar que gosto de sentar e ficar pensando na vida é o Darsena, uma espécie de bacia artificial no meio da cidade, mas com patos e cisnes que, juntos, dão um show de fofura. Sua construção foi realizada em 1603, mas todo o seu entorno foi revitalizado nos últimos anos, ganhando restaurantes e um mercado.
Tudo isso se deu por conta da realização da Expo 2015, evento que estimulou muitas melhorias na cidade.
BONS RESTAURANTES
Se você pretende se aventurar nas delícias gastronômicas da cidade, a região do Navigli em Milão é o lugar certo. O maior clássico de todos é o Risotto Alla Milanese com Ossobuco. O segredo é o arroz preparado com açafrão e a panturrilha de vitela com o osso.
É possível encontrar em qualquer restaurante da região. Outra iguaria local é a Cotoletta Alla Milanese, um bife bem servido de carne de vitela, empanado e frito. Normalmente é servido com batata e salada.
Claro que quanto mais turístico o lugar, mais caro é o prato. Geralmente comemos em um restaurante que fica entre os dois navigli, chamado La Magolfa, que foge um pouco do tumulto, tem um cardápio muito bom com preços acessíveis.
COMPRINHAS INESQUECÍVEIS
Assim como no Pátio dos Artistas, todo o Naviglio em sua extensão possui ateliês, livrarias, lojas de objetos de decoração e de antiguidade. São peças muitas vezes únicas e artísticas, que não será fácil encontrar em outros locais.
Aliás, no último domingo do mês as calçadas do lado esquerdo do canal principal, recebem uma feira de produtos antigos e artesanais. Mesmo que não for comprar nada, só o passeio já vale a visita!
JARDIM SECRETO (OU QUASE)
Uma pequenina porta no número 66 do Naviglio Grande esconde um belíssimo pátio com jardim. No local está instalado o “Centro di Incisione”, um centro cultural e galeria Prepare a câmera fotográfica e aproveite também para esticar as pernas em meio a natureza.
A PONTE DA POETISA
“Nessuno mi pettina bene come il vento” (Ninguém me penteia tão bem quanto o vento). Capaz de escrever palavras tão lindas quanto essas, a poetisa italiana Alda Merini viveu os últimos anos de sua vida de frente ao Naviglio Grande, no número 47. Ilustre moradora local, após a sua morte, ganhou como homenagem póstuma o nome estampado em uma das pontes, a de pedra.
Próximo dali funciona o espaço cultural dedicado a ela. Aos amantes da literatura e da poesia, convido realizar a visita guiada no espaço, conduzida por uma atriz que vive durante o trajeto, a poetisa.
Com certeza se hospedar na região de Navigli em Milão é uma das melhores opções. Tendo tudo próximo, é possível economizar no transporte! Preparei algumas sugestões de locais, levando em conta a localização e as pontuações na plataforma Booking, a que eu também utilizo para viajar!
Hotel
Com uma localização privilegiada, o Hotel Milano Navigli possui um ótimo custo benefício, com quartos amplos e bem iluminados. O serviço disponibiliza café da manhã continental e também transfer desde o aeroporto (consulte as condições).
Maison Borella
O preço do Maison Borella é um pouco acima da média, mas só pelo charme e conforto, compensa. Acordar, abrir a janela e ter a vista do Naviglio certamente será uma experiência inesquecível. A decoração é simples, um pouco rústica, mas muito elegante. Não se preocupe com o barulho da agitação noturna do canal, os quartos possuem janelas anti ruídos.
HOSTEL
Do ladinho da Porta Ticinese, o hostel New Generation fica super próximo ao Naviglio Grande. Eles possuem quartos coletivos e também individuais, mistos ou apenas feminino. Tem cozinha equipada, o que já ajuda a economizar e possui aquecimento interno, para os dias de inverno.
Combo Milano
Outra opção em conta é o Combo Milano, instalado em um apartamento popular enorme em pleno canal. As instalações são novas, o pátio central é bem grande e é oferecido café da manhã no local. É aquele típico lugar que só de ver as fotos, já dá vontade de reservar.
A pé: Saindo do Duomo de Milão, a caminhada é tranquila e dura apenas 25 minutos.
Andando de tram: Bem próximo da Catedral partem quatro linhas de trem que servem para o trajeto: 3, 2, 14 ou 15.
Pegando o metrô: Já quando o assunto é metrô, o que chega mais próximo é a Porta Genova FS (linha verde). Saindo da estação, caminhe pela Via Casale, até o fim.
Vá com tempo para poder desfrutar de toda a região do Navigli em Milão. O passeio pede calma e olhar atento. Sente em um dos bares do caminho, experimente um aperitivo, saboreie um gelato italiano. Aproveite a estadia!
Dúvidas? Escreva aqui no comentário ou nos procure lá no Instagram: @Zanzemos
Comente pelo Facebook