Era o dia do aniversário do meu pai. Pela manhã, mandei um recadinho e como eu estava pronta para visitar Auschwitz, prometi voltar logo após o meu passeio para uma conversa pelo Skype. Imaginava o que estava por vir, mas não pensava que pisar no maior cemitério do mundo, me colocaria no fundo do poço.
Ao retornar fui direto comer na praça principal do centro de Cracóvia. Era sexta-feira, a rua estava cheia e as pessoas bem animadas. Por fora meu rosto estava atônito, dentro me sentia um caco. Meu corpo doía. Em meio a mordidas em um pão que eu mal consegui comer, postei com o wifi público algumas fotos no Facebook com o intuito de compartilhar com meus familiares e amigos próximos o que eu tinha vivenciado. Sentia falta de um abraço.
Escrevi para a minha mãe dizendo que estava muito triste, que queria dormir. Não iria conseguir ligar em vídeo para celebrar o aniversário do meu pai. Fui descansar com ela dizendo que seria melhor não ter ido, ainda mais sozinha. Recomendou-me planejar algo feliz para o dia seguinte e esquecer tudo aquilo. Como???
Os extensos compartilhamentos das minhas fotos me serviram de apoio para falar sobre o assunto. Obrigada! Algumas pessoas me escrevem perguntando se eu acho que elas devem ir. Não tenho a resposta. Penso que esta é uma decisão individual que possui consequências, pois, é algo que irá te acompanhar para sempre e que você jamais irá esquecer.
Para quem ainda não viu…
Auschwitz-Birkenau: o que foi?
Constituído em 1940, Auschwitz é conhecido mundialmente como um dos maiores símbolos do genocídio praticado pelos nazistas. Durante a II Guerra Mundial os alemães invadiram a Polônia e estabeleceram estrategicamente na região de Auschwitz, antiga Oswieçim, um campo de concentração no local onde anteriormente funcionava um alojamento do exército polonês.
Com a alta demanda de prisioneiros e a necessidade de mais espaço o complexo do terror teve de ser, com o passar dos anos, aumentado. No final o local era constituído por três partes: Auschwitz I, Auschwitz II-Birkenau e Auschwitz II-Monowitz. No início, em Auschwitz I apenas poloneses e prisioneiros de guerra soviéticos eram mortos no campo. Depois em 1942, Auschwitz II-Birkenau se tornou o maior lugar de extermínio em massa de judeus em toda a história da humanidade.
Estima-se que mais de 1,3 milhão de pessoas, sendo 90% delas de origem judia vindas de diversas partes da Europa, além de poloneses, presos políticos, prisioneiros soviéticos, homossexuais e ciganos, foram mortas no local. Quem não era executado na câmara de gás morria de fome, frio, doenças infecciosas, trabalho escravo, experiências médicas, suicídio na cerca elétrica ou execuções individuais.
Apenas em janeiro de 1945, com o fim da II Guerra Mundial é que 7 mil prisioneiros foram libertados pelo Exército Vermelho. Ao saírem do local, os alemães tentaram demolir alguns edifícios como a câmara de gás e o crematório de Auschwitz II-Birkenau na tentativa de esconder os horrores causados por eles.
Em 1947, o governo polonês resolveu fazer do antigo campo de concentração um museu, no intuito de preservar a memória daqueles que passaram por ali. Desde 1979 o complexo faz parte da Lista de Herança Mundial da UNESCO.
Como visitar Auschwitz?
Para visitar Auschwitz e ver de perto os horrores do campo de concentração mais tenebroso do mundo é preciso ir até a Polônia. O complexo está localizado no sul do país, próximo a cidade de Cracóvia.
Cracóvia não é a capital do país. O centro político e econômico fica na capital Varsóvia, também uma ótima cidade para se visitar, já que possui diversos pontos históricos do mesmo período, como o Gueto de Varsóvia e a fábrica retratada no filme “A Lista de Schindler”. A distância entre elas é de apenas 300 quilômetros.
Chegando na Cracóvia
Não existe voo direto do Brasil para a Polônia, e consequentemente Cracóvia. Para visitar Auschwitz sempre será necessária uma conexão que pode ser feita nos países próximos como a Alemanha, a Suíça ou a Itália, por exemplo. O bom é que você pode testar diversas conexões até encontrar a forma mais barata ou chegar na Polônia de ônibus. Foi o que fiz, viajando com a LUX EXPRESS . Entrei no continente europeu pela Rússia e fui de ônibus até a Polônia, passando pela Letônia e Lituânia.
Moeda utilizada na Polônia
A moeda utilizada na Polônia é o Zloty. Atualmente o valor do zloty polonês está um pouco acima do real brasileiro, porém ainda assim conseguimos viajar tranquilamente pelo país, pois o custo de vida é considerado mais baixo.
A melhor forma de trocar dinheiro por lá é levando Euros ou Dólares. Não tente trocar Zlotys aqui no Brasil, porque além de ser pouco provável que você consiga encontrar, durante o processo de câmbio as taxas podem ser altas.
Hospedagem na Cracóvia
Por conta da localização e do preço escolhi me hospedar no Hostel Benedykta. Ele fica bem no centro da cidade, próximo a estação de trem, rodoviária e das principais atrações turísticas. O quarto mais barato possui três treliches e armários individuais com chave.
Eu estava fazendo um mochilão sozinha, por isso obrigatoriamente tive que escolher um local mais barato, mas existem outros lugares com preços bem atrativos. Tem outras opções de hospedagem com qualidade na Booking, o site que sempre utilizo durante minhas viagens pelo Brasil e pelo mundo.
Como chegar a Auschwitz-Birkenau de forma independente?
Existem duas possibilidades de visitar Auschwitz de forma independente: ônibus ou trem. A grande vantagem é que, tanto a estação rodoviária, quanto a ferroviária ficam praticamente no mesmo lugar, portanto não será difícil por lá você escolher a melhor forma de transporte. A diferença se dá no local de desembarque. O ponto final do ônibus é na entrada do campo, já o trem fica na estação ferroviária de Oswieçim, em torno de 1,5Km do museu.
Como essas não foram as minhas opções, não tenho maiores detalhes, apenas faço a recomendação óbvia de que você deixe para comprar a passagem de volta no local, pois ficar correndo com horário apertado pode atrapalhar o seu passeio.
De Auschwitz I até Auschwitz II-Birkenau são 4 km. Existe um ônibus que faz o trajeto gratuitamente, porém, apenas entre abril e outubro.
Como visitar Auschwitz sem guia
A entrada ao complexo é gratuita, porém, mesmo quem vai por conta precisa obrigatoriamente retirar seu ingresso de controle de acesso ao local. Ela é liberada antes das 10h e depois das 15h.
Se você vai fazer a visita de forma independente, sem guia, eu recomendo profundamente que você ao menos compre o livreto “Auschwitz Birkenau – Lugar de Memória e Museu”. Ele é vendido na lojinha, custa poucos zlotys e pode servir como um manual explicativo detalhado sobre os locais mais importantes do complexo.
Ingresso para Auschwitz com o serviço de guia. Como comprar?
É extremamente importante comprar com antecedência o ingresso para a visita guiada no site do Memorial Auschwitz. Lá clique em Reserva e escolha a opção Visitas Individuais (lembrando que o site está em inglês).
A entrada ao Campo de Concentração é gratuita, apenas o serviço de visita guiada é cobrado. A visita guiada custa 90 zlotys (algo em torno de R$ 90,00) e possui a duração de 3 horas e meia.
Como não sabia fui comprar meu ticket exatamente um mês antes da visita e na data escolhida não havia mais ingresso. Para o dia seguinte a única visita que ainda havia vagas disponíveis era em italiano. Como eu fazia questão de realizar o tour explicativo acabei comprando mesmo assim.
Acontece que quando cheguei na Cracóvia, percebi que as agências de turismo ofereciam na data que eu realmente precisava, por um preço que incluía o transfer e guia em espanhol (já que compreendo melhor a língua). Tive que mudar meus planos e perder o bilhete que eu já havia comprado (eles não fazem reembolso em caso de desistência).
Como visitar com agência de turismo?
No Hostel Benedykta eles possuem uma parceria com a See Krakow Local Tour, uma agência que oferece diversos passeios pela cidade e região. Paguei 155 zlotys (mais ou menos R$ 155,00) pelo transfer do centro da cidade até Auschwitz I, o transfer de Auschwitz I até Auschwitz II-Birkenau e a volta de Auschwitz II-Birkenau para Cracóvia, além claro do serviço do guia no local. A visita toda dura de 6 a 7 horas e não existe pausa para o almoço. Os horários variam, então é bom consultar o site.
Visitar Auschwitz pelo tour virtual
Algumas das principais instituições do mundo oferecem em seus sites uma espécie de tour virtual, para que visitantes de diversas partes do planeta possam ter acesso ao local. O mesmo acontece com Auschwitz. Nesta matéria separei 15 passeios virtuais pelo mundo e um deles é o campo de concentração.
Outras dicas!
– É proibida a entrada com bolsas grandes, mochilas ou grandes volumes. Existe uma triagem na porta e apenas pessoas com bolsas super pequenas passam pela segurança. Existe um guarda-volumes que permite com que você guarde seus pertences. Vale lembrar que cada complexo possui o local de armazenamento. Se você ao se dirigir a Auschwitz II-Birkenau retirar seus pertences de Auschwitz I terá de pagar novamente uma nova taxa.
–Na entrada de Auschwitz I vi quiosques vendendo lanches e no estacionamento vi restaurantes que oferecem refeições mais completas.
– Em muitas das salas existem placas pedindo para não tirarem fotos. É o caso da parte onde estão cabelos de diversas prisioneiras mortas nas câmaras de gás. Eles eram arrancados para serem usados na confecção de roupas para os soldados. Muitas pessoas não respeitam e fazem de tudo para burlar as regras e clicar o local… Por consideração aos falecidos acho importante obedecer.
– Você está pisando em um local de luto, onde jazem as cinzas de milhares de pessoas. Respeite o ambiente.
– Para conhecer um pouco mais sobre a história dessa época, recomendo também a visita a Casa de Anne Frank, em Amsterdam.
Dúvidas? Me escreva nos comentários!
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TELMA FERREIRA
Em 30 . 06 . 2017 | 19:06
Vc foi muito corajosa em visitar este lugar sozinha. Mas acredito que seus sentidos estiveram muito mais aguçados…
Parabéns pelas fotos. Elas mostram de forma explícita porém sensível as monstruosidades ocorridas neste lugar.
Compartilho da idéia de divulgar e mostrar para todos, aproveitando ao máximo as mídias sociais, o que foi o nazismo e todas as atrocidades cometidas nos campos de concentração para que genocídios como esses não se repitam nunca na historia da humanidade.
Concordo com vc a arquitetura do lugar é fantástica, mas diante de tantas evidências o local é sombrio.
Obrigada pelas imagens.
Telma
Thatiane Ferrari
Em 04 . 07 . 2017 | 19:06
Obrigada, Telma!
Diane
Em 21 . 07 . 2017 | 19:06
Obrigada pelas imagens, me deram arrepios, e em cada uma senti uma grande tristeza.
Tenho vontade de conhecer este lugar, me interesso por toda história, o fato de não ter vivido nesta época, faz dela como se fosse uma fantasia, antes fosse. É indescritível a crueldade que todos passaram nesse período.
Cada livro que eu leio, cada documentário ou filme me fazem refletir muito, e já perdi as contas de quantas vezes já chorei em apenas imaginar o que as pessoas passavam. Com as fotos não foi diferente.
Thatiane Ferrari
Em 24 . 07 . 2017 | 19:06
Obrigada pelas palavras, Diane.
É muito triste, mas temos que ter sempre contato com isso “Para que nunca se esqueça, para que nunca mais aconteça”.
Abraços
Thatiane Ferrari
Marcos Faria Ribeiro
Em 02 . 10 . 2017 | 19:06
Olá Thatiane! Parabéns pelo texto… é de grande ajuda a quem, assim como você, quer conhecer melhor esse triste capítulo da humanidade.
Gostaria de fazer mais algumas perguntas, pois visitarei o museu agora em outubro, partindo de Katowice (POL). Você saberia me dizer se a empresa de ônibus de Katowice também para próximo à entrada do museu? As barracas de alimentação/restaurantes que ficam próximos aceitam euro ou pagamento através de cartões, ou somente Złoty? Reservei entradas para um horário bem cedo (as únicas que restaram) e tenho receio de não conseguir chegar a tempo (7h45). Como farei um tour sem guia, seria possível eles barrarem minha entrada caso eu chegue um pouco atrasado, mesmo sendo antes das 10h00?
Enfim, a gente fica tão apreensivo com os preparativos, mil dúvidas, querendo fazer tudo certo para não ter (nem causar!) problemas… espero que você possa me ajudar ainda mais um pouquinho…
Desde já, muito obrigado e um abraço,
Marcos
Thatiane Ferrari
Em 08 . 10 . 2017 | 19:06
Oi, Marcos. Tudo bem?
Desculpe a demora em responder!
Super importante todos esses seus questionamentos. Assim como você também gosto de me preparar antes para que nada possa acontecer de errado!
Como fui a partir da Cracóvia, não sei lhe dizer se os ônibus saindo de Katowice param próximos ao museu (os que saem da Cracóvia o final da linha é na entrada do campo).
Quanto as barracas de alimentação, quando fui utilizei Złoty, pois como já havia almoçado, apenas comprei água. Lembro de ter estabelecimentos grandes na parte de fora, próxima a entrada, então provavelmente aceitam pagamento com cartão.
Em relação ao possível atraso, procurei informações aqui no meu Guia Europa Oriental e não encontrei.
Sugiro que você escreva para eles e faça essa pergunta (muito pertinente, aliás). Digo isso pois na Cracóvia tive um atraso considerável de ônibus (uma hora) e poucas pessoas sabiam falar inglês para me ajudar.
O e-mail deles é: reservation.office@auschwitz.org . Tive uma dúvida, escrevi e eles me responderam no primeiro horário do dia seguinte.
Espero ter ajudado e fico à disposição para eventuais dúvidas!!!
Abraços e boa viagem 🙂
ERICK PRADO ARRUDA
Em 06 . 05 . 2019 | 19:06
Olá Tathiane, parabéns pela reportagem. Está ótima. Vou na próxima semana para visitar Auschwitz e fiquei em dúvida quanto às fotos. É possível tirar fotos de todos os lugares, exceto aqueles que vc citou? E como fazer com a mochila de fotografia, que é grande com várias lentes e tripé?
Thatiane Ferrari
Em 07 . 05 . 2019 | 19:06
Oi, Erick! Tudo bem com você? Obrigada pela visita!
Sim, somente em algumas salas eles pedem para não fotografar, de resto tudo é liberado. Inclusive a parte externa.
Quanto a mochila, essa é uma questão um pouco complicada. Na verdade é limitada a entrada de bolsas. Eles liberam contanto que a dimensão seja do tamanho de uma folha sulfite A4. Li relatos de que eles até utilizam a própria folha para medir. Sei da fragilidade das lentes, mas por acaso você não teria uma bolsa menor para adaptar apenas para esse momento?
O tripé, sinceramente não sei se passa. Eu arriscaria tentar entrar e qualquer coisa, deixaria no guarda-volume.
Espero ter ajudado!
Boa viagem