Possuidor do poder de transformação, o rio da vida, como o Nilo é conhecido, sempre foi a referência maior de todo o Egito. Próximo de onde suas águas correm, os terrenos são férteis e as condições de sobrevivência, mais favorecidas. Fazer um cruzeiro no Nilo é ter contato direto com um dos lugares mais sagrados da civilização egípcia. Em pleno deserto, passando por cidades, vilarejos e templos, ele nos conduz por histórias seculares.
Grandes faraós, rainhas e reis construíram em suas margens obras monumentais em reverência aos seus deuses e deusas. Para aproveitar um pouco de cada um desses lugares, vale a pena separar pelo menos três noites e embarcar em um cruzeiro no Nilo.
Cruzeiro no Nilo: principais rotas
Para navegar em suas águas calmas e apreciar o verde de suas margens, as viagens de cruzeiro pelo Nilo são realizadas apenas entre as cidades de Luxor e Assuã, em uma distância de apenas 200 km. Saindo da capital Cairo, o que existe é a possibilidade de chegar até as duas cidades de trem ou avião e de lá, embarcar em um navio.
Dentre as cidades, a mais próxima do Cairo é Luxor, com 700 km de distância. Um voo até lá possui a duração de 1h05. No caso de Luxor é possível também chegar de ônibus pela GO BUS, após uma viagem de 10 horas.
Já do Cairo até Assuã são 900 km, resultando em uma viagem de avião de 1h20. De trem fica difícil calcular, pois depende da modalidade contratada. Os voos partem apenas alguns dias da semana, então antes de traçar a rota é preciso verificar as datas.
Independente de qual lado o viajante inicie o trajeto, a rota sempre visitará os mesmos lugares ao longo do rio. Estes locais ficam em Edfu, Kom Ombo e Esna, cidades localizadas nas margens do Nilo. Cada uma delas abrigam preciosidades arqueológicas que resistiram ao tempo.
Edfu
A pequena Edfu está localizada entre as cidades de Assuã e Luxor. Sua principal atração é o templo ptolomaico, que fica relativamente próximo da margem do Nilo, cerca de 1km.
Templo de Hórus
Um dos lugares mais preservados de todo o Egito, o Templo de Hórus é simbolizado por um falcão e atribuído ao deus da guerra. A construção do complexo principal levou cerca de 25 anos para ficar pronta e foi realizada entre o reinado de Ptolomeu III e Ptolomeu Neos Dionisus XII.
Na mitologia egípcia, Hórus é filho de Osíris e Ísis, por isso eles juntos compõe a sagrada família. Os faraós acreditavam que o local exato onde foi construído o templo, era o mesmo lugar onde ocorreu uma batalha entre Hórus e o tio Seth, em um duelo para honrar o assassinato de seu pai, Osíris.
Durante o combate, Hórus perdeu um olho. Em razão disso, como resultado os faraós passaram a usar o símbolo como uma espécie de amuleto para dar sorte, poder e afastar a inveja. O Templo de Hórus ficou soterrado por mais de 2 mil anos, em razão da areia do deserto que o cobriu em mais de 12 metros. .
Kom Ombo
A apenas 40 km de Assuã fica a cidade agrícola de Kom Ombo, na margem direita do rio. Sua população é composta por muitos núbios que foram desalojados da área submergida pelo rio Nasser. A principal atração local é o Templo de Kom Ombo, da dinastia ptolomaica, localizado bem nas margens do rio. Do barco já é possível avistar as ruínas.
Como eu estava com um grupo de viagem e o templo localizado bem próximo a embarcação, acabei utilizando roupas mais despojadas. Em síntese, não recomendo o uso em outros tipos de ambientes que não sejam turísticos, por conta da cultura geral do país.
Templo de Kom Ombo
Único templo erguido em homenagem a duas divindades, o Templo de Kom Ombo é totalmente simétrico, possuindo pares de entradas, salões e santuários, cada um deles do mesmo tamanho. Igualmente importantes, os deuses cultuados no local são os irmãos Sobek, o deus com cabeça de crocodilo e protetor do Nilo e Hórus, o deus da guerra.
A princípio sua construção se deu durante o reinado de Ptolomeu VI, terminou com Ptolomeu XII e ganhou posteriormente, um pilono, espécie de portal, durante a ocupação do imperador romano Augusto.
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Como veremos, Hórus tinha na mesma região outro templo para seu culto. Da mesma forma, Sobek possuía em sua devoção dois templos: este em Kom Ombo e outro em Fayum. Nestes locais sagrados haviam tanques com crocodilos para adoração. Após a morte, todos os animais eram mumificados. Atualmente, eles podem ser vistos na Capela de Hathor, que fica ao lado do templo. Lá estão expostas quarenta múmias de crocodilos, de tamanhos variados entre dois e cinco metros de extensão.
Esna
Pertinho de Luxor, Esna é a antiga Latópolis. Atualmente ela vive da agricultura e também do turismo por conta de seu sítio arqueológico descoberto após anos soterrado. Tanto que, o Templo de Khnum está localizado em um fosso no meio da cidade, cercado por várias casas. Para acessar o local sagrado é preciso descer 10 metros de escadarias.
Templo de Khnum
Construído em cima do local onde outrora existia um outro templo sagrado, o atual santuário do período Ptolomaico, assim como o antigo, é consagrado para a divindade Khnum, o deus com cabeça de carneiro, encarregado da criação humana.
O Templo de Khnum possui 24 colunas de 13 metros e um teto que permanece até os dias atuais praticamente intacto. O mais curioso definitivamente são as inscrições dos signos dos zodíacos. É nítido ver cada um deles, por conta da riqueza de detalhes.
Imperadores como Cláudio, Vespasiano, Tito e Décio são citados em algumas inscrições dentro do salão, o que mostra a presença dos romanos no Egito. Por conta das cheias do Nilo, o Templo ficou soterrado de lama durante séculos. Apenas na década de 1860 é que Khnum foi descoberto. Ao passo que a cidade foi crescendo, ele ficou embaixo de algumas casas.
Booking.comPlanejamento de viagem
Quando comecei a planejar a minha viagem ao Egito, logo me veio em mente a possibilidade de buscar uma forma de navegar pelo Nilo. Solicitei algumas cotações com empresas brasileiras e fiquei espantada com os preços, uma vez que saiam totalmente da minha realidade.
Somente quando encontrei uma empresa egípcia, a Hola Egypt Tour , é que percebi que poderia continuar a sonhar com a viagem. Costumo falar que comigo os passeios deram certo. Conto os detalhes na matéria “Roteiro pelo Egito: lugares que você deve conhecer!”. Toda a negociação foi feita por e-mail e na contratação não apresentava os detalhes do navio. Solicitei imagens e recebi apenas os nomes de duas embarcações, já que poderia ser uma ou outra.
Ao chegar no Cairo a agência me confirmou que o barco autorizado para a data seria o MS Emilio Domina Prestige, uma embarcação 5 estrelas. Para quem está acostumado a fazer viagens de cruzeiro pelo Brasil e pelo Mundo, já adianto que, em suma, não tem nada parecido com as embarcações de grande empresas como MSC, Costa ou Royal Caribbean.
Como é o cruzeiro no Nilo?
Antes de mais nada já adianto que tudo é bem simples. Mas ainda assim, a experiência com ele foi perfeita. Embarquei no porto de Assuã e segui viagem até Luxor. O navio possui 70 cabines, todos equipados e com janela. O deck é bem espaçoso e conta com uma piscina rasa. Sentar um final da tarde para ver o sol se pôr no Nilo foi um dos momentos mais deslumbrantes de toda a viagem.
Geralmente as empresas oferecem no pacote todas as refeições, todavia somente as bebidas são pagas à parte. A gastronomia é internacional e com uma grande variedade. Além disso há o serviço de bordo como massagem, salão de beleza e internet, porém não estão inclusos.
Dentro do navio eu não tinha um guia. Nesse sentido, pude ficar livremente pelo espaço e só quando chegávamos em alguma parada é que o guia local de cada um dos templos vinham ao nosso encontro. Em alguns lugares tivemos que chegar até os monumentos de charretes e em outros o santuário ficava na margem do rio.
No meu contrato havia três noites no navio e em uma delas aconteceu uma pequena festa. Na verdade era uma área social do barco com algumas luzes e o som ligado. Logo, a animação mesmo ficou por conta dos próprios viajantes. Um grupo resolveu deixar a festa mais temática, comprando jelabas, aquelas túnicas compridas utilizadas pelos homens egípcios.
Minha experiência de viagem
Como estava sozinha no cruzeiro, durante as refeições os garçons juntavam os viajantes desacompanhados na mesma mesa. Dessa forma, eles acabam facilitando criar amizades durante o trajeto.
Éramos em cinco na mesa, um chinês, um equatoriano, um romeno, um argentino e eu, brasileira e única mulher. Tive muita sorte de fazer essas amizades, pois com eles pude relaxar um pouco mais em qual tipo de roupa usar e frequentar lugares fora da embarcação que eu certamente não iria sozinha.
Por fim, no último dia o barco ficou atracado para pernoite na cidade de Luxor, em um porto distante do centro. Existia a opção de ficar no navio e jantar por lá, mas preferimos dar um passeio. Para chegar até o ponto principal de Luxor tivemos que pegar um táxi. Na manhã seguinte, o próprio guia turístico que me levaria conhecer os templos locais, veio me buscar de carro.
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